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Sensorialidade Plasmática e a Consciência Orgânica em Wilhelm Reich

  • Foto do escritor: Luis Blanco
    Luis Blanco
  • 9 de abr.
  • 2 min de leitura

Reich não se limitou a uma concepção psicológica ou sociológica da subjetividade. Ao contrário, sua investigação das raízes da vida psíquica e emocional o levou a explorar os processos mais fundamentais da biologia. Ao fazê-lo, Reich propôs uma psicobiologia original: uma visão da vida que integra a sensorialidade, a emoção e o movimento como expressões de uma organização protoplasmática viva.







A Vida como Motilidade Plasmática


Para Reich, a vida se manifesta desde suas formas mais elementares por meio da motilidade protoplasmática, que ele observa em organismos unicelulares. Essa motilidade básica — a pulsação de expansão e contração — é, para Reich, a matriz das sensações, emoções e da própria consciência.


Essa pulsação não é apenas física, mas está impregnada de ressonância sensorial: Reich distingue entre uma motilidade plasmática-em-si (sensação primária, "emoção em si mesma") e a expressão emocional (visível, comunicável). Essa distinção é fundamental para compreender a gênese da afetividade humana e sua relação com o corpo vivo.


Sensorialidade Orgônica: Vegetatividade e Emoção


A partir de suas observações clínicas e experimentais, Reich propôs que existem sensações vegetativas ou orgonóticas que acompanham estados de prazer, dor, excitação, relaxamento — e que são comuns a todos os seres vivos, desde amebas até seres humanos. São sensações de dilatação e contração que se expressam em toda a pulsação do organismo.


Sob a ação da pulsação orgonótica, ocorrem variações de tônus, calor, fluxo energético e consciência do corpo — processos que ele chamou de funções vegetativas sensoriais.


A Sensação Plasmática como Núcleo da Consciência


Reich concebe a consciência como função da autopercepção das sensações plasmáticas. A consciência surge da integração progressiva das percepções do corpo-vivo, desde os primeiros momentos do nascimento — e mesmo antes dele. Há uma conexão profunda entre o campo perceptivo e o campo da consciência.


Ao nascer, o bebê é uma unidade viva, mas suas funções perceptivas ainda não estão integradas. A experiência emocional é, num primeiro momento, plasmática, anterior à organização dos sentidos clássicos. Reich sugere que a formação do "eu" passa pela integração progressiva dessas sensações em um campo de motilidade sensível, base para ações intencionais.


Sensorialidade e Formação do Self


Durante o desenvolvimento, Reich postula a existência de dois eixos sensoriais:


- Um ramo somático, que se articula com a formação dos órgãos e funções fisiológicas.

- Um ramo emocional, vinculado às auto-percepções e experiências de prazer e desprazer.


Ambos os ramos são interdependentes e dão origem à percepção de si, ao "sentir-se vivo", ao sentido de self. A consciência de si, assim, nasce da relação direta com o campo somático-afetivo da motilidade orgonótica.



Implicações Clínicas e Ontológicas


A abordagem reichiana rompe com as dicotomias clássicas: mente e corpo, interno e externo, sujeito e objeto. Ao localizar a raiz da consciência e da emoção na vida pulsátil do organismo, ele propõe uma ontologia do sensível: o ser vivo é um campo de pulsação em relação com o mundo.


Por isso, Reich não apenas investigou a neurose, mas também propôs uma pedagogia do sentir: um caminho de reconexão com a motilidade e a vibração da vida, onde a consciência não é apenas um reflexo do cérebro, mas o desdobramento de um corpo que sente, pulsa, se organiza e se expressa.

 
 
 

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