Rizomas Reichianos: História, Política e Fluxos de Intensidade
- Luis Blanco
- 18 de mar.
- 2 min de leitura
Atualizado: 21 de abr.
A Integração Organísmica (IO) retoma de Wilhelm Reich sua perspectiva histórica, social e política, mas sem fixá-lo como uma autoridade inquestionável. Em vez de um sistema fechado, a IO cria conexões vivas com outras abordagens, ampliando e deslocando suas ideias.
Em vez de repetir "Reich disse isso ou aquilo", reconhecemos sua importância, mas também traçamos novos rizomas. Reich foi um psiquiatra que desenvolveu uma teoria do corpo e dos afetos, algo inexistente na psiquiatria tradicional, e chamou essa abordagem de "Biopsiquiatria". No entanto, a IO se expande para outros caminhos, incorporando elementos da crítica contemporânea à subjetividade e à sociedade.

Além da Repressão: A Produção da Subjetividade
Se Reich propôs a ideia de uma sociedade repressiva que bloqueia a energia vital, hoje reconhecemos que os dispositivos de poder não operam apenas por meio da repressão, mas também através da produção de subjetividades. Assim, a IO se abre para outras conexões:
Foucault: Da sociedade disciplinar à sociedade de controle, do modelo da repressão à produção de subjetividade.
Deleuze e Guattari: O Anti-Édipo como um deslocamento da psicanálise edípica para uma perspectiva rizomática do desejo.
Winnicott: Uma perspectiva pré-edípica e ontológica, oferecendo um novo olhar sobre o início da vida sem a necessidade de passar pelo Édipo como matriz estruturante.
Essa travessia nos permite pensar Reich além de si mesmo, sem a necessidade de cristalizar suas ideias.
Trauma, Pré-Nascimento e a Experiência Primária
Outro campo que a IO amplia é o estudo dos traumas pré-natais, peri-natais e neo-natais, um tema que Reich não aprofundou, mas que foi desenvolvido por outros autores. A IO integra essa perspectiva sem recorrer à catarse ou a regressões indiscriminadas, mas explorando como esses traumas modulam a experiência do corpo e da percepção.
David Boadella, Nandor Fodor, Francis Mott, R.D. Laing, Stanislav Grof e Frank Lake: A relação entre a gestação, o nascimento e os estados primários de experiência.
A ausência de catarse forçada: Em vez de reviver traumas, buscamos micro-movimentos e ajustes somáticos que permitam uma integração progressiva da experiência.
Da Energia às Intensidades e Variações
Reich trabalhou com a noção de energia, quase como uma entidade que precisava ser desbloqueada e liberada. A IO desloca essa perspectiva para fluxos de intensidade, pulsações e variações sensoriais, saindo de um modelo energético fixo para um modelo de experiência viva.
Fluxos e ritmos: O corpo não é uma bateria que acumula e descarrega energia, mas um sistema vivo de variações e modulações.
Pulsação e presença: A IO não busca apenas liberar energia bloqueada, mas sustentar estados de presença e sintonia com os fluxos do corpo.
O corpo como campo de forças: Mais do que um reservatório de energia, o corpo é um território de atravessamentos, ressonâncias e intensidades.
IO: Um Rizoma Vivo
A IO, portanto, não toma Reich como um dogma, mas como um ponto de partida para múltiplos atravessamentos. Conectamos sua obra com novos desafios e perspectivas, mantendo vivo o que importa e deixando de lado o que já não ressoa.
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