A Teoria Polivagal e sua Difusão nas Abordagens Somáticas
- Luis Blanco
- 6 de abr.
- 2 min de leitura
A Difusão da Teoria Polivagal nas Abordagens Somáticas Contemporâneas
Desde sua formulação nos anos 1990, a Teoria Polivagal de Stephen Porges se espalhou por diversas correntes da psicoterapia corporal e do trabalho somático. Sua linguagem neurofisiológica, aliada à ênfase na segurança e no vínculo, tornou-se um marco de legitimação clínica e científica em tempos marcados por uma busca por evidências e eficácia.

Abordagens que incorporaram a Teoria Polivagal
Somatic Experiencing (Peter Levine):
Apesar de Levine já trabalhar com conceitos como pendulação, titulação e regulação antes da teoria de Porges, foi com ela que muitos conceitos ganharam um respaldo neurofisiológico mais claro. A ideia de “fisiologia do trauma” e da “janela de tolerância” se articulam com o vago dorsal (colapso) e o vago ventral (regulação relacional).
Terapia Sensório-Motora (Pat Ogden):
Foca na leitura de movimentos, microgestos e defesas corporais como manifestações do SNA. A teoria polivagal ajuda a localizar essas reações dentro de uma fisiologia do vínculo e da proteção.
Experiência Somática Pré-Natal e Perinatal (Ray Castellino, William Emerson):
Utilizam a perspectiva polivagal para compreender as respostas de sobrevivência ainda em estágios muito precoces, onde o vago dorsal domina como recurso de congelamento.
Abordagens integrativas como NARM (Modelo Relacional Neuroafetivo, de Laurence Heller):
Adota uma leitura da estrutura do self e das estratégias de sobrevivência ligadas à regulação autônoma. A conexão com Porges aparece na ênfase em segurança e co-regulação.
Massagem Biodinâmica (Gerda Boyesen e derivados):
Algumas linhagens atuais incorporam elementos da teoria polivagal para compreender os movimentos peristálticos, a regulação do sistema digestivo e o tônus vagal.
A Integração Organísmica (IO): Além da Regulação
A Integração Organísmica reconhece a relevância da Teoria Polivagal, mas não a toma como matriz explicativa totalizante. Em vez de reduzir a clínica à regulação do SNA, a IO busca expandir:
- Do modelo neurofisiológico à ressonância somática: o vago ventral não é apenas “regulador”, mas campo de sintonia viva, afeto encarnado e ritmo compartilhado.
- Da segurança à criação: não basta acalmar o sistema — é preciso criar novas formas de corpo, relação e presença.
- Do trauma à potência: o campo da IO não gira apenas em torno do trauma, mas também do desejo, da estética, do êxtase e da transformação subjetiva.
- Do indivíduo ao coletivo: o campo de sintonia é transindividual, e não apenas interno. A IO trabalha com grupos, arte, ritual e política do sensível.
Uma Ética da Modulação, não do Controle
Ao invés de usar a teoria polivagal como protocolo técnico, a IO propõe uma ética da modulação da intensidade — onde o terapeuta, como corpo presente, escuta os ritmos, ajusta os tempos e sustenta o campo sem impor metas de regulação.
O SNA deixa de ser só um sistema de defesa ou de afiliação e passa a ser visto como sistema de afecção, expressão e transdução da experiência.
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